quarta-feira, 4 de julho de 2012

AS VIAGENS A PAULO AFONSO por Cuca


Na minha adolescência o melhor lugar para curtição, era sem dúvida a cidade de Paulo Afonso, pois naquela época, para a construção das hidroelétricas, foi necessário a Chesf outorgar vantagens a fim de trazer para aquele sertão brabo, bons técnicos , engenheiros, administradores, empreiteiros etc.

Desse modo, foram criadas duas vilas dentro da cidade, bem protegidas por guaritas, contando com amplas moradias, praças, clubes sociais, hospitais, supermercados, cinemas, igrejas e até uma fazenda para cultura de hortaliças, produção de leite e carne.

A vila dos diretores e a dos operários; na primeira ficaram instalados os técnicos de nível superior em sua maioria engenheiros, geólogos, administradores, advogados, médicos, contadores e na segunda vila os operários de um modo geral.

A segurança era feita pela própria companhia, sendo de uma eficiência impar, inclusive ajudada por uma guarnição do exercito também instalada junto a vila operária.

Era um verdadeiro oásis no meio daquele sertão, os técnicos e operários tinham o privilégio de não pagar aluguéis, água, luz, gás, telefone e usufruir dos clubes sociais, escolas e hospitais por um valor simbólico e comprar mercadorias nos supermercados por valor de custo.

Por conta desses benefícios, a Chesf manteve por vários anos um corpo técnico de altíssimo nível, que implantou às hidroelétricas e alavancou a cidade de Paulo Afonso, antiga vila Poty.

Eu tinha um amigão primo e compadre que era diretor comercial, morando na maior casa da vila face sua numerosa prole, nove filhos, o saudoso Geraldo Silva; e Clailton tinha seu irmão mais velho Dailton, que também morava lá, portanto foi a sopa no mel; jamais deixamos de ter uma namorada efetiva naquela crescente cidade.

Nossas viagens sempre eram a noite, para evitar o calor e a quantidade de retas, tornando-se cansativa e extenuante. Farei o relato de uma das viagens que resolvemos iniciá-la às 23 horas de uma quarta-feira, após um jogo no ginásio do estadual, eu, Clailton e nego Adilson; mas ao passar em casa para pegar a roupa e um pneu de reserva, pois como sempre, eles estavam devidamente carecas, dona Santina disse que iria, sem contestação, mais mamãe era ótima para viagens, sem qualquer frescura, dava-nos status. Depois de duas trocas de pneus três pileques nos bares da estrada, dia já raiando, perto do Carié, apareceu uns bodes, Clailton pediu para parar o jeep, e de revolver em punho, a menos de meio metro da vítima atira uma, duas, três vezes e nada o bode estático observando o atirador, a seguir sai pelo cano o chumbo e cai no chão aos pés do Clailton. Bala velha,  foi a maior gozação.

Deixei o Clailton na casa do Dailton e fomos para a casa do Geraldo e Lais, onde, pelo menos passava parte das férias e quatro vezes por ano naquele paraíso.

A casa de meu compadre era de uma fartura impar, e todos, sem exceção adoravam nossa presença, mamãe então era queridíssima por seu estilo brincalhão e sincero. Naquele tempo, havia satisfação em receber os parentes sem quaisquer interesses, existia harmonia familiar, como também viajar à noite era normal, não ocorria assaltos, as pessoas tinham prazer em ajudar ao próximo sob qualquer aspecto. Em outra viagem faltou gasolina pela madrugada e, fomos socorridos por um tenente que estava vindo ao nordeste passar as férias, ele derramou a água de um cantil e colocou gasolina retirada do tanque com uma pequena mangueira, que sempre tínhamos como prevenção. a mudança de valores e atitudes foi drástica e terrível.

Nossa programação era curtir o clube, a lagoa dos patos, jogar baralho, banco imobiliário, guerra, tomar umas e outras, dançar, ir a fazenda, fazer compras, assistir filmes, mas principalmente  n a m o r a r.

Em Paulo Afonso havia um mulherio de primeira, tanto pela beleza, como pela educação, cultura e assanhamento total, era ótimo. Tinha um guarda meu conhecido, o Alcântara, que tinha por obrigação de levar os turistas para visitar a cachoeira, mas como já conhecíamos de cor os lugares, convencemos ao meu amigo de nos levar até o bondinho que atravessava a cachoeira, ficando ele com o jeep, e ia nos buscar a tardinha; ficávamos com às namoradas nas casas de vigia, até à hora acertada da volta; era genial.

Todo final de semana tinha dança nos dois clubes, competições e outros eventos, pois a comunidade era muito atuante e amiga e, Geraldo como Dailton eram muito respeitados.

Nessa específica viagem vimos numa quarta feira, aproveitando um feriado na quinta e voltamos na segunda feira pela manhã. na volta, perto de palmeira dos índios, o jeep quebrou a caixa de marcha, soltando os parafusos, obrigando a Clailton a segurá-la para não cair. Deixamos mamãe na casa de  dona Dorinha, nossa velha amiga e fomos para a oficina consertar o jeep que so ficou pronto no final da tarde, jantamos e tomamos banho na casa de Dorinha com sabonete phebo, exigência do Clailton e como à tarde tínhamos comprado muitas pinhas em palmeira de fora, com o dinheiro do Adilson, contra sua vontade, mas por idéia do Clailton, tiraríamos as despesas da viagem com a venda das pinhas no mercado de Maceió. Mas com a demora da viagem, pois, resolvemos dormir na Mataraca, face a fadiga de todos, as pinhas amadureceram  de vez, e, não conseguimos vendê-las no mercado; o jeito foi levá-las para a zona de Jaraguá, onde, a muito custo conseguimos o capital aplicado reclamador Adilson.


Foi um estilo de vida completamente diferente do atual, valores e atitudes que nos deixam saudosos e perplexos pelas mudanças absurdas  concretizadas. 

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