sexta-feira, 29 de junho de 2012

SÃO JOÃO NA AVENIDA DA PAZ por Lelé


O período das festas juninas, que simplesmente chamamos de SÃO JOÃO, está para nós nordestinos,  como o carnaval está para o Sul Maravilha.

 A partir de 19 de março, dia de São José, já começávamos a contagem regressiva para o início de nossas festas preferidas. Todas as casas da Avenida da Paz tinham um quintal nos fundos onde ficavam as fruteiras, jardins e galinheiro. Especialmente nesse dia,  procurávamos pedacinhos de terra disponíveis para plantar as sementes de milho. As colheitas nessa pequena plantação eram feitas nas vésperas, e nos dias de S. João e S. Pedro. Os milhos novos e verdinhos eram assados na fogueira em frente a casa.


COMIDAS DE SÃO JOÃO

Os saborosos pratos à base de milho, como canjica, pamonha, milho cozido, bolo e mungunzá eram servidos durante todo mês de junho. Eram feitos com milhos comprados no atacado, no mínimo uma mão, 50 espigas, em carroceiros que vendiam de porta em porta.
Nos dias e vésperas das festas em homenagem aos santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro, certamente todas as casas tinham esses quitutes, além de arroz doce, amendoim cozido na casca, bolo de macaxeira, pé de moleque, enfim, tudo o que a imaginação e competência culinária de nossas mães podiam fazer com as maravilhas que brotam de nossa terra.  

Quando a fogueira já estava em brasa assávamos os milhos colhidos em nossos quintais. Também na brasa fazíamos churrasquinhos de carne no espeto, acompanhados, claro,  de nosso quentão,  mistura de cachaça, vinho tinto, Cinzano e canela.


AS ADIVINHAÇÕES DAS MENINAS

As festas juninas começavam a tomar fôlego dia 13 de junho, dia de Santo Antonio, quando as meninas se juntavam para fazer adivinhações que giravam em torno de um único tema -  com quem iam se casar???. Era mais um motivo para aumentar a bagunça dos meninos da Avenida, que nunca perdiam uma oportunidade de melar a brincadeira das meninas.

Uma das adivinhações era furar uma bananeira com uma faca que nunca tinha sido usada.   No dia seguinte apareceria na lâmina as iniciais do provável noivo. Víamos escondidos onde as meninas enfiavam as facas. Depois,  colocávamos uma letra na lâmina com sumo de limão, e a faca voltava para o mesmo lugar na bananeira. Quando a menina, no outro dia tirava a faca, estava uma letra de algum menino que ela não gostava. E nós? Lá estávamos, de olho, para apontar o nome do bandido que ela não queria nem ouvir falar. Pura maldade .

Também bagunçávamos as adivinhações de colocar uma moeda na fogueira e no dia seguinte oferecê-la ao primeiro esmoler que aparecia. O nome dele seria do pretenso noivo. Também costumávamos brincar de deixar os pingos de uma vela caírem na água de uma bacia até aparecer uma letra. Era a primeira letra do nome de um  pretendente.  E muitas outras brincadeiras de  adivinhações  animavam as nossas noites juninas,   como colocar clara de ovo num copo d´água. No dia seguinte se aparecesse na água uma figura sugerindo a imagem de uma igreja, era sinal de casamento próximo.  Se a imagem sugerisse  um navio,  era sinal de viagem.  A imagem de  um caixão, era a morte em breve. Claro que pra provocar gritinhos de pavor entre as Luluzinhas,  fazíamos sempre aparecer no copo d´água,  no dia seguinte,  o desenho de um caixão.


FOGOS

Acendíamos as fogueiras no começo da noite. O efeito era quase que mágico. A Rua Silvério Jorge, de repente, ficava totalmente iluminada pelas labaredas e pelas brasas  das fogueiras. A fumaça cobria todo o céu. Com a brasa na extremidade do pau da fogueira acendíamos nossos fogos.

Pistolão, vulcão, estrelinhas, diabinhos, bombas, pipocavam em cores e luzes enfeitando toda a rua. A pivetada corria de fogueira em fogueira, jogando travaliana, beliscando os quitutes feitos por nossas mães, felizes como pinto no lixo.

Na Avenida da Paz, as fogueiras eram altas, montadas na areia da praia, onde não havia a limitação da rede elétrica. O contraste daquele fogaréu com a lua e o mar, formava uma paisagem de tirar o fôlego. Belíssima. Principalmente quando o tio Béu  soltava os mais deslumbrantes fogos de artifícios. Outros soltavam balões. Era um momento especial esperado ansiosamente por todos os meninos da região. A noite da Avenida da Paz brilhava em todo seu esplendor.


GUERRA DE FOGUETES




Nesse período de São João, os meninos da Avenida mantinham um confronto sem trégua com os meninos da Praça Sinimbu, armados só com foguetes. O Rio Salgadinho era a divisa da área de atuação. Passando desse limite, o moleque era coberto com bombas de pistolões. Sempre havia alguma queimadura na batalha.
Certa vez, Dimas, um mulato da Praça Sinimbu atravessou o rio, pela praia, com um grupo de amigos. Estávamos escondidos atrás das pilastras da Ponte do Salgadinho, esperando justamente isso, um atrevimento da parte deles. De um lugar estratégico,  com boa visão do campo de batalha, acompanhávamos cada passo, cada manobra dos inimigos. E de cima para baixo, surpreendemos Dimas e sua tropa, jogando foguetes em cima deles. Alberto Cardoso acertou o cocuruto do Dimas com um rojão. Ele passou meses com uma faixa no cabelo pixaim. Maldade.

Não existia para nós, Meninos da Avenida, melhor época do ano que o São João.

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