sábado, 30 de julho de 2011

INFÂNCIA QUERIDA QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS por Carlito

Nasci e me criei na Praia da Avenida da Paz, quase às margens plácidas do Riacho Salgadinho, numa bela manhã de verão alagoano do 27 de fevereiro de 40, bem perto do carnaval.

D. Zeca, minha mãe uma doce, alegre e bela criatura. Morena, filha de dono de engenho, teve a felicidade de ter 31 irmãos legítimos e alguns bastardos.

Meu avô materno José Vieira Peixoto, primo-irmão do Marechal Floriano Peixoto registrou 15 filhos com a primeira mulher e 17 com a segunda, minha Avó América, mais nova que as 4 primeiras filhas. E ainda pai de vários tios nos engenhos da vida.

D. Zeca, uma das inteligências mais cintilantes que conheci, tinha pouco estudo, o que era normal para uma mulher, na época. Foi uma dama que irradiava alegria, a mulher mais festeira, mais alegre que convivi. Suas tiradas, seus comentários eram sempre inteligentes, de um fino e debochado humor.

Já meu pai um pouco sisudo, para quem não conhecia de perto, era um militar, Capitão do Exercito quando nasci. Tinha um coração e uma coragem imensurável.

Capitão Mario Lima, o herói da revolução de 1932 em São Paulo. Nos campos de batalha arrastou um soldado e um coronel feridos para a trincheira em pleno e generalizado tiroteio, as balas zuniam matando e ferindo soldados, mesmo assim saiu de sua trincheira e trouxe rastejando, arrastando os dois feridos.

Em 43, por conta desse ato heróico o então General Newton Cavalcante, alagoano da Palmeira dos Índios, grato ao Capitão Mario Lima por ter salvado sua vida, o convidou para ser Ajudante De Ordem do General no Rio de Janeiro.

Lá se foi toda família. Do Rio pouca coisa ficou gravada em minha memória. Lembro apenas, de balões enormes que soltavam onde morávamos, Rua Fernando Laboriaux na Tijuca; o nascimento de meu irmão Américo, que logo tomou o apelido de Lelé, nome do mais famoso jogador da época do Vasco campeão de 44-45. Tenho vagas lembranças de uma grande festa, a chegada dos pracinhas da 2ªGuerra Mundial no Rio, numa sala no Ministério da Guerra, jogava papel picado do alto do prédio nos pracinhas que desfilavam.

Outra tênue lembrança do Rio daquela época, foi a arrumação das malas para embarcarmos no Itanajé, navio da Costeira, rumo à Maceió, onde meu pai conseguiu sua transferência em 1946 e passou quase toda sua vida profissional no 20° Batalhão de Caçadores, unidade da Infantaria do Exercito de Maceió.

Quando aportarmos no cais de Maceió, fiquei deslumbrado com a vista do mar azul-esverdeado de uma luminosidade intensa; ao longe a praia e o casario da Avenida da Paz. É uma imagem ainda nítida e permanente que ficou para o resto da vida. Vou levá-la comigo, está impregnada em minha mente e em meu coração. Maceió foi meu primeiro caso de amor.

Menino ainda, aprendi a nadar, e amar aquela praia extensa, areia dura, branca e fina, e um mar que não tem tamanho de um azul esverdeado. Esse o cenário, o palco de uma infância feliz, menino seminu, dono do mar e das areias da Praia da Avenida.

Os moradores da Avenida da Paz eram a classe média-alta e rica daquele tempo, a fina flor, a elite econômica, social e intelectual.

Mas nós crianças éramos democratas com nossas amizades com os meninos moleques freqüentadores da praia, jogando juntos futebol na areia, nadando nas águas límpidas e transparentes.

Em Jaraguá, defronte aos casarões, onde as damas da vida vendiam seu corpo acolhendo os boêmios e marinheiros, havia trapiches fincados na área da praia, estendendo-se mar adentro, com bases em palafitas de troncos grossos. Na ponta, no final, um galpão de madeira, com duas águas de telhados de zinco, armazenava mercadorias, onde atracavam as balsas para transportar sacos de açúcar para os navios fundeados.

O cais de Maceió não comportava muitos navios, eram precisos trapiches para embarcarem o açúcar produzido nas usinas alagoanas.

Os maloqueiros da praia nadavam ate o trapiche, subiam pelas palafitas, chegavam aos telhados. Equilibrando-se no telhado de zinco quente, se tinha uma deslumbrante vista da enseada da praia da Avenida. Lá de cima os meninos se jogavam com o corpo esticado em livres mergulhos, uma deliciosa caricia no peito, no ventre, até o impacto com a cabeça na água límpida e cristalina.

Certo dia um menino, 12 anos, se jogou, e ali ficou, a maré estava baixa, foi imprudente, uma tristeza a retirada do corpo. A partir desse dia ficou proibido o salto do trapiche, não só pela direção do Cais do Porto, como também por nossos pais.

Mas éramos livres para obedecer, logo estávamos de novo a saltar da cumeeira, o lugar mais alto. E quando de repente aparecia o vigia; todos pulavam para o mar e nadando a molecada cantava gritando e uníssono: O galo canta....... o macaco assobia....... banana de jegue.... no cu do vigia!!!! O vigia era um velhinho abusado, chegou a prender alguns dos campeões de salto ao mar, modalidade única no esporte mundial, praticado apenas pelos maloqueiros da praia da Avenida da Paz nos anos 50.

Tempos de pós-guerra, criatividade de menino ilimitada, inventamos a guerra nas trincheiras de praia. A meninada dividida em 2 Exércitos para batalha, ninguém queria ser o alemão. Cada lado cavava sua trincheira na areia, no buraco cabiam 5 a 6 “soldados”.

Fabricava a munição na hora: bola de areia molhada endurecida com areia seca. Jogava as bolas duras nos adversários, apenas pelo prazer de acertá-las no rosto dos inimigos. Acabava a brincadeira ao anoitecer com um ataque à trincheira inimiga. Os Exércitos se atracavam, porrada dos dois lados, nunca havia vencedor.

O futebol na areia era o jogo o predileto, às vezes com campeonato organizados, juiz, traves e medalhas aos vencedores, terminava sempre em briga, ninguém respeitava o juiz. O jogo continuava até o anoitecer, até o gol da Lua, o ultimo gol, depois da Lua aparecer.

Ficou famoso o futebol de Perrelli, uma família de italianos, meus vizinhos Fernando, Betinho e Rafael, organizavam uma pelada aos domingos com trave, camisa e juiz. Era o mais famoso futebol de praia de Maceió. Várias gerações jogaram na pelada dos Perrelli, acabou nos anos 80 com a poluição do Salgadinho e a conseqüente poluição da Praia da Avenida.

Em certo dia, Warren Lima, meu primo um pouco mais velho, chegou alegre festejando com uma bandeirinha o campeonato carioca ganho pelo Fluminense. Participei da alegria e a partir desse dia, tornei-me tricolor do coração, uma de minhas paixões, quase irracional que me deu muita alegria. Devo esse meu amor ao tricolor ao grande Warren, que hoje vive nas mansas praias de Niterói.

Estudei o primário e secundário no Colégio Diocesano (Marista). Minhas aulas eram pela manhã. À tarde estudava o mínimo suficiente, fazia os deveres de casa, e saía em busca de brincadeiras e aventuras. Era gostoso pescar no Riacho Salgadinho quando a maré enchia. Empurrava uma jangada de tronco de bananeira para o meio do Rio, apenas um remo, de lá jogava a tarrafa aberta e bonita, enchia tainhas e carapebas.

Com uma tetéia e isca presa era só arrastar os siris de todo tamanho, os menores retornava ao Riacho. Sem saber, já havia consciência ecológica na meninada. À noite D. Zeca fritava aqueles peixes vindo do Salgadinho ou das redes dos amigos pescadores que deixavam os meninos pegarem as miuçalhas (peixe pequeno), uma delicia frito na manteiga.

Nas margens e imediações do Salgadinho, por ser terra salobra, lama salgada, se prestava à vivência, ao “habitat” de caranguejos, principalmente o goiamum azulado. Com lata quadrada de óleo ou azeite, nós fabricávamos as “ratoeiras” para capturá-los. Armava, com as tampas levantadas e uma isca no fundo. Colocava na saída do buraco, o caranguejo ao beliscar a isca fechava a “ratoeira”. Uma vibração, uma felicidade, quando a gente via a “ratoeira” com a tampa fachada e um baita goiamum preso.

No viveiro, um engradado feito de tiras de ripas de madeira, cevava engordava os caranguejos. Dias depois uma farra e caranguejada com os amigos, o caldo do gordo goiamum escorria pela boca, uma delicia.

Com peteca (atiradeira) a meninada brincava de Guerra de Mamona. Dividia a em 2 Exércitos, em torno de 5 soldados pra cada lado, por trás dos postes atirava com a peteca mamona no adversário, era a guerra. Certa vez levei uma mamona no olho esquerdo, uma dor terrível, fiquei 3 dias sem enxergar, sem poder abrir o olho.

Na época dos bons ventos, a molecada soltava “raia” (pipa-papagaio). Na praia, as raias eram empinadas com linha de cera e vidro para cortar, derrubar a do vizinho. O céu ficava de um colorido alegre cheio de raias de todas as cores. Meu irmão Betuca sempre foi um artista, fabricava as raias mais bonitas, lembro de uma enorme, com a bandeira do Brasil, foi uma sensação na praia, na avenida, na rua, todos que passavam olhavam encantados aquela boniteza de brincadeira de criança, balançando cheia de vitalidade de um lado para o outro, imponente, era a bandeira do Brasil, meninos, idolatrávamos esse país.

Bom mesmo era ximbra (bola de gude). “Lente” era o cara de boa pontaria. Eu vivia jogando e ganhando, tinha caixa de ximbra em casa, meus bolsos eram cheios para jogar nos intervalos no Colégio e à noite na Avenida. Havia vários tipos de jogos; triangulo e buraco meus prediletos.

Já no pião era um caos, sempre perdendo. Depois de jogar, o vitorioso tinha direito de, com o próprio pião amarrado com a enfieira, tentar com a ponta do pião quebrar o casco do pião adversário. Perdi muitos piões, até alguns que mandei fazer de goiabeira. Mas só o rodar o pião colocar na mão e vê-lo zunir, já deixava a gente feliz.

“O meu pião é feito de goiabeira... ele só roda com a ponteira... na palma de minha mão... dança morena.. no meio desse salão...requebrando o corpo todo.... no ronco desse pião.. roda pião... roda pião... roda pião...”

À noite o calçadão da Avenida da Paz se transformava em palco e campo de jogos. Correr no “Roubar-Bandeira”, jogo interessante. Dividia a calçada em 2 campos, um para cada equipe de 5 ou 6 menino(as), no final de cada campo colocava uma bandeira. O objetivo era entrar pelo campo adversário pegar a bandeira fincada e trazer para o próprio campo sem ser tocado pelo adversário. Quando alguém era tocado pelo adversário tinha que parar ficar imóvel até um amigo vir e tocar de novo, “soltar” o amigo. Ganhava quem trouxesse primeiro a bandeira do adversário pro seu campo. É um jogo de astúcia, velocidade e jogo de corpo.

Os mais fortes, mais parrudos se davam bem no “gata – parida’”. Um jogo de empurra nos bancos da avenida, onde cabiam 5 pessoas, sentavam apertados 7 meninos, e no empurra – empurra pelo corpo, os mais fracos são expelidos, até restar apenas um, o vitorioso que conseguiu expelir, à força, seus adversários para fora do banco.

Luís Gutemberg, grande jornalista e analista político alagoano, companheiro amigo de juventude de Maceió, hoje radicado em Brasília, escritor, romancista, tem um de seus livros, o titulo de “O Jogo da Gata Parida”, onde conta a briga de grupos pelo poder, a competição dos generais na sucessão presidencial, nos anos 70.

Além dos jogos coletivos tinham os esportes, as brincadeiras individuais. Os patins quando deixava a velocidade e a leveza tomar conta do corpo, deslizando feliz nas calçadas da cidade.

De bicicleta, bati todos os caminhos de Maceió, sem destino, atrás de namoradas, às vezes atrás de empregadas nas vizinhanças, em busca de aventuras.

Já mais grandinho subia a ladeira do Farol, para reunião da UCPM, uma associação de amigos daquele formoso e chique bairro, era a famosa União dos Conquistadores de Piniqueira de Maceió, onde os associados tinham promoção conforme conquistas das pininiqueiras (empregadas domésticas). Cheguei como soldado, nunca passei de tenente. Só 2 associados chegaram a general, hoje um deles é Ministro de um egrégio Tribunal de Justiça em Brasília e outro um político de grande influência no Estado de Alagoas.

Os moradores da Avenida, depois do jantar, colocavam cadeiras nas calçadas para “tomar uma fresca”, conversar. Os temas mais comuns eram: a política e a vida alheia. Às 10 horas em ponto recolhiam as cadeiras, mandavam os meninos entrarem, era hora de dormir, terminava a noite.

A Avenida da Paz ficava deserta, via-se apenas alguns boêmios se dirigindo aos lupanares de Jaraguá em busca de emoções e distração com as raparigas. Programa restrito aos adultos, só para homens. Mas não podiam proibir os sonhos, as fantasias dos meninos.

Foi assim a infância romântica e até ingênua dos anos 50 na cidade de Maceió, na praia da Avenida.

CLUBE FÊNIX ALAGOANA por Carlito

A bela praia da Avenida da Paz foi palco dos maiores eventos, manifestações e carnavais das Alagoas. Nos anos 60 / 70 era a praia mais curtida pela população e a praia mais democrática. Freqüentada por todo tipo de gente de todos os bairros, de todos os locais da cidade. Os barões juntavam-se aos peões no futebol praieiro ou dividindo pedaços da areia. O povo do Vergel do Lago, Ponta Grossa e Trapiche da Barra tomava banho de sol e mar junto à burguesia.

Os ricos só deixaram de freqüentar a praia da Avenida quando o Riacho Salgadinho ficou poluído, desaguando naquela bela praia seus dejetos, sua água apodrecida. Os pobres continuam freqüentando a Avenida, mesmo poluída, pois não têm direito sequer a um lazer sadio.

Clube Fênix Alagoana, cenário de muitas histórias de nossa juventude, é um dos prédios que se destacam na Avenida da Paz. Palco de carnavais, animadas festas, arrebatados amores, e muitos porres homéricos de uma mocidade feliz.

Nos anos 30, Napoleão Goulart, inaugurou a sede da Fênix na Avenida. Minha mãe gostava de contar as festas elegantes que havia, principalmente o aniversário da Fênix e o Reveillon. Lembro, ainda menino, seis ou sete anos, de minha alegria em vestir uma fantasia de pierrô para ir ao baile infantil, com lança-perfume Rodhouro na mão, jogando o jato perfumado nas pessoas e nos olhos dos meninos inimigos. Certa hora se dava verdadeira batalha de lança no ar.

Durante toda minha vida freqüentei a Fênix. Certamente a melhor época; a época ainda gravada no coração e na mente foi o final dos anos 60. Eu havia chegado a Maceió, capitão do Exército, solteiro. Com Guilherme Palmeira, Eduardo Uchoa, Galba Acioly e Marden Bentes, formamos um quinteto para ninguém botar defeito em termos de boemia. Freqüentamos todos os tipos de festas, bailes, biroscas, bares, puteiros e boates de Maceió. Aonde chegávamos a festa estava feita. A Fênix era nosso escritório, local de encontro. Fazíamos parte do clube como os móveis e utensílios. Era o clube mais organizado, mais bem freqüentado das Alagoas, graças a seu presidente, um homem de visão, advogado, nascido nas melhores famílias alagoanos, desportista e amigo dos sócios: Ardel Jucá.

Foi a época de ouro. Muita diversão e esporte. Nos fins de semana era ponto obrigatório. Iniciava na sexta-feira com música ao vivo na beira da piscina. No sábado havia festas com cantores famosos artistas em evidências. Conheci muitos deles – Miltinho, Simonal, Elizeth, Jair Rodrigues, entre outros- tomando uísque com Ardel, Geraldo Patury, Benedito Bentes e Zé Elias. No domingo o imperdível SAMBRASA, conjunto do Paulo Sá, tocava e cantava as mais belas e novas músicas do cancioneiro brasileiro. Nessas domingueiras se juntava o que havia de melhor em papo nas redondezas: Altamir da Costa Barros, Napoleão Moreira, Cyro Acioly, entre outros.

As meninas logo aderiram à revolucionária moda das tangas. Ferviam nossas veias quando tiravam o short para cair na piscina, mostrando seus corpos dourados, bronzeados, sensuais. Coxas bonitas, maravilhosas, apetitosas.

Havia muitas histórias, sem fundamento, que rolavam em Maceió sobre os freqüentadores da Fênix. Isso é natural em todos os clubes fechados que existem no mundo.

Só entrava na sede do clube com a carteirinha de sócio e senha do mês. No carnaval, com festas durante o dia e noite, havia o “maiador”, aquele não sócio que pulava o muro.

Lelé meu irmão, morava fora de Maceió, embora sócio, não tinha carteira, e certo dia quis entrar na Fênix junto com seu amigo Marden Melé. Identificou-se dizendo que era filho do General Mário Lima, coisa e tal, o porteiro deixou entrar, e perguntou para o Melé de quem ele era filho. Melé ficou parado pensando. Até que de repente conseguiu respondeu ligeiro com sua gagueira hilariante: “Sou fi-fi-filho... sou fi-fi-filho... do... do... do pai dele”.

O porteiro deu uma gargalhada. Deixou os dois entrarem.

Certa vez houve um escândalo: um sócio ia para Fênix tarar aquelas maravilhosas meninas tomando banho de sol com seus biquínis cavados. A exposição daqueles corpos era um espetáculo, um incentivo à libido. Em certo momento ele não agüentou, mergulhou na piscina com péssimas intenções.

Foi flagrado por um diretor que estava na sacada do salão nobre com uma visão total sobre a piscina. Percebeu pelos movimentos frenéticos, que o moço estava se masturbando. Não houve jeitinho, meu amigo foi expulso da Fênix.

Esse tipo de acontecimento é fato pontual. Na Fênix os sócios sentiam-se em família. Havia um ambiente respeitoso e fraterno. Era onde se juntava a fina flor, a elite alagoana. Na Fênix se conheceram, se namoraram muitos casais, hoje bondosos, alegres avós.

Os Clubes estão de novo em alta no Brasil devido a problema de segurança. A nova diretoria da Fênix está tentando soerguer o clube centenário. Não é à-toa que o Clube tem esse nome. Na mitologia grega, Fênix, era um enorme pássaro guerreiro que quando morria, renascia de suas próprias cinzas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

QUICO por Carlito

Os filhos de Seu Luís Ramalho e Dona Bi são meus amigos desde a nossa alegre e livre infância. Essa amizade vem de nossos pais, nossos avós e bisavós. Nossa amizade vem dos tempos que éramos índios caetés e comemos (por via oral) o Bispo Dom Pero Fernandes Sardinha nas praias de Barra de São Miguel.
O último dos onze filhos deram-lhe o nome de Francisco Prazeres Ramalho de Castro - o Quico, curtidor das coisas boas da vida. Somos amigos-irmãos, parecidos na maneira de ser e de viver.
Desde meninos nos damos bem, tivemos uma bonita juventude. Hoje na maturidade continuamos essa amizade encarando a maravilhosa vida como uma bonita viagem.
Eu tenente do Exército Brasileiro servia no Recife, na Segunda Companhia de Guardas, tropa de elite do IV Exército quando rebentou o golpe militar de 1964.
Apoiei e participei ativamente da “Revolução” com meu pelotão. Nas missões que tive, dias 1º e 2 de abril no centro do Recife, minha preocupação era um enfrentamento com os estudantes de Engenharia. A Faculdade ficava no centro da cidade, na agitação dos estudantes estariam certamente meu irmão Lelé e meu amigo Quico.
No final da tarde de dois de abril, eu vinha recolhendo a tropa cansada para o quartel, quando um sargento me instigou a dar uma carreira, dissolver os estudantes que estavam aglomerados perto da Faculdade de Engenharia. Respondi ao sargento que estávamos atrasados. Passamos com a tropa sem perturbar a pequena agitação. Só no outro dia, tive conhecimento que meu irmão Lelé e Quico estavam entre os “agitadores”. Nesse dia morreram dois estudantes em confronto no centro do Recife.
O golpe militar veio para valer. Nos finais de semana, às vezes, ficava de serviço de oficial de dia. Era freqüente a visita de Quico, estudante de Engenharia de Minas.
Entre os presos políticos havia um amigo de Quico, Rui Frazão. Todo o domingo ele levava um bolo para o Rui. Certa vez, eu era o oficial de dia, Quico chegou com o bolo. Levei-o ao xadrez. Ficamos conversando com o Rui Frazão, Arraes, Paulo Freire, entre outros.
De repente o cabo corneteiro deu um toque alto e sonoro. Reconheci o toque e falei: “É o General! Vou recebê-lo”.
Quando voltei, Quico havia desaparecido. À noite contou-me: quando eu fui receber o general, ele saiu sorrateiramente, cumprimentou a sentinela, saiu de fininho. Teve medo de ficar preso.
Fomos habituais freqüentadores das noitadas recifenses. Saíamos em busca de aventuras. Pastoreamos as noites como se fossem crianças. Festas em clubes, aniversários de 15 anos, boates. Namorar naquele tempo era de portão, pegar na mão, alguns tímidos beijinhos dentro do limite. Com a cumplicidade da namorada sempre ultrapassávamos esse limite.
Como ninguém é de ferro, visitávamos algumas casas chamadas suspeitas. Djanira, alagoana, ex-babá de Marden Bentes montou uma casa de lazer em Boa Viagem. Um luxo, mulheres bonitas provenientes da Europa, França e Bahia, além das bonitas caboclas sertanejas.
Casa freqüentada pela fina flor da sociedade local: usineiros, deputados, comerciantes, padres, e nós, sempre bem recebidos com recomendação especial da proprietária do estabelecimento.
O alagoano fora de sua terra torna-se sentimental, saudoso. Para conservar essa chama de alagoanidade freqüentemente íamos visitar a conterrânea Djanira.
Na galeria do Edifício Walfrido Antunes no Centro do Recife, havia uma pequena boate de nome Flamboyant.
Certa noite, eu, Quico fomos à boate acompanhados de Nezito Mourão, amigo de infância da Praia da Avenida da Paz, companheiro do Colégio Diocesano de Maceió. Mourão dedicou-se à carreira de jogador de futebol, jogou no Santos junto com Pelé e Coutinho no grande time dos anos 61-62-63.
Estávamos os três a bebericar, quando houve um problema. Por ciúmes ou por despeito, o dono do estabelecimento proibiu continuar servindo bebida em nossa mesa. A causa foi à cantora estar sentada em nossa mesa conversando e se divertindo. Ciúme do proprietário da boate.
Sem pretender alguma briga, pagamos a conta e preferimos sair da boate. Mesmo assim o proprietário chamou a Polícia.
Quando estávamos fora da galeria, na calçada, apareceram os policiais correndo, se dirigiram à boate.
Para melhor dispersar, cada um dos amigos tomou uma rua diferente. Eu entrava num táxi na Avenida Conde da Boa Vista, quando três policiais armados me deram ordem de prisão. Mesmo dizendo que a confusão não tinha sido comigo e ter-me identificado como tenente do Exército, eles não consideraram.
Levaram-me preso para a Delegacia na Secretaria de Segurança, à margem do Rio Capibaribe.
Esperei pacientemente mais de duas horas para ser atendido. Quando o Delegado me ouviu, olhou minha carteira de tenente do Exército, saiu por um momento.
Voltou pedindo desculpas pelo mal entendido daqueles policiais ignorantes, que infelizmente a polícia civil ainda era assim constituída, com alguns policiais que não sabiam distinguir o que era realmente um infrator.
Nesse momento entrou na delegacia um pelotão do Exército armado até os dentes trazido por caminhões com a finalidade exclusiva de me tirar da Delegacia a “manus-militaris”.
Nessa hora me tornei um bombeiro, para evitar um quebra-quebra naquela Delegacia, pedi calma. Não queria perder a razão. Eram meus soldados da Companhia de Guardas, que tinham admiração e carinho pelo seu comandante.
Foi Quico que me viu ser preso de longe. Correu para o apartamento onde eu morava com os tenentes Coelho e Fernando Marinho. Eles não admitiram minha prisão, avisaram no quartel e foram no mesmo instante para a Delegacia, quase houve um quebra-quebra. A polícia civil prender um oficial do Exército naquele tempo era uma profanação.
No outro dia deu nos jornais, manchete principal: “Polícia prende tenente do Exército que causa confusão. O Tenente Lima do Exército, o jogador de futebol Mourão e um individuo, causaram alteração em uma boate.....” O indivíduo era o Quico..
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No Recife existe uma enorme colônia de judeus estabelecida há mais de três séculos. Foram os judeus do Recife que séculos passados foram para a América e fundaram uma vila na ilha de Manhatan. Deu-se o início da cidade de Nova York.
Conheci um comerciante de madeiras que tinha duas filhas bonitas, Sara e Raquel. Tornaram-se nossas namoradas. Eu com Sara e Quico com Raquel. Nos fins de semana o pai deixava as meninas saírem, desde que juntas e sob a responsabilidade minha, afinal eu era um tenente do Exército. Ele não imaginava o perigo.
Certa noite levamos as meninas em uma festa num clube na Imbiribeira. Na hora da maquiagem, nossas namoradas foram ao banheiro.
Na mesa, Quico desabafou. Estava para acabar seu namoro. Eu lhe disse que se fosse assim, ia também mudar de namorada, confessei que preferia a Raquel. Foi quando ele falou que preferia a Sara.
Arquitetamos nossos planos. Quando as meninas chegaram, Quico pediu licença e foi dançar com minha namorada. Eu imediatamente peguei a dele. Dançamos mais de uma hora, com muita conversa de ouvido e declarações escondidas. Final da festa sai do Clube com Raquel. Quico com Sara.
Ao chegar na casa das meninas, o pai, o velho judeu ao abrir a porta, olhou admirado. Até hoje permanece a dúvida de quem era namorado de quem.
Alguns fins de semana passávamos em Maceió. O ônibus das seis da noite de sexta-feira saído do Recife ficava lotado de estudantes alagoanos.
Geralmente nós levávamos um isopor tamanho médio cheio de garrafas de cervejas, beber durante a viagem era divertimento. Quando parava em Palmares, reabastecia de bebidas.
Certa vez, já perto de Maceió, o ônibus não tinha banheiro, eu estava com uma vontade louca de fazer um xixi. Já não agüentava mais. Pedi ao motorista para dar uma parada, cheio de dores na bexiga, passava mal.
Quando o ônibus parou, desci apressado e fui para a traseira me aliviar. Nessa condição de espera, de expectativa não consegui me livrar de uma gota, aumentou a situação aflitiva e penosa, todos no ônibus esperando e eu nada. Não quis incomodar e voltei para o ônibus, sem ter me aliviado.
Quando sentei que contei para o Quico. Ele na mesma hora deu a solução: tirou as garrafas de cerveja do isopor e me deu pra fazê-lo de penico. Foi a santa saída.
O maior alívio de minha vida. Peguei o isopor com líquido pela metade e sacudi pela janela. Foi mal calculado, o vento forte, fez o líquido voltar. Os passageiros sentados nos bancos mais atrás receberam algumas pingadas. O mistério ficou. Até hoje ninguém soube como entraram pela janela aqueles pingos finos de um líquido cheirando a amônia.
São muitas as histórias com Quico, algumas mais recentes.Pena o espaço, a censura e a Justiça não deixarem contar.
No final dos anos 60 fui padrinho de seu primeiro casamento em Salvador. Eu que recebi um presente: uma cunhada, uma irmãzinha que tenho guardada no peito, Fátima Lisboa. Vive em terras soteropolitana com a filha, minha querida Adriana.
Hoje Quico é um pacato cidadão, mora nos mares da Ponta Verde, nessa terra dos Prazeres. Tranqüilo sessentão parece afinal que encontrou o amor de sua vida. Amor de verdade, verdadeiro, de vera, de Vera Lúcia.

PAULO por Carlito

Inimputabilidade - aprendi essa palavra quando estudava a matéria Direito na Academia Militar das Agulhas Negras. Na prática, vim saber seu significado quando era menino, maloqueiro da Avenida da Paz.

A nossa Avenida era bem tratada. Havia fiscalização da Prefeitura. Todos os dias a Guarda Civil escalava um guarda para vigiar, não permitir depredar o patrimônio publico. O vigilante iniciava seu trabalho às 18 horas e terminava as seis da manhã do outro dia.

Às vezes, era escalado para o serviço um guarda muito cônscio de suas obrigações. Extrapolava em seus deveres proibindo a meninada jogar pedras nas amendoeiras, riscar a calçada para jogar garrafão ou avião, e outras bobagens que para nós eram importantes.

Por conta disso, nós meninos livres da Avenida detestávamos quando aquele guarda, muito certinho, cheio de regras era o escalado para fiscalizar a Avenida.

Ele ficava irado, fulo de raiva quando alguém gritava seu apelido: Guarda Doido.

Certa noite, depois do jantar, saí de casa para uma reunião de nosso time de futebol o Atlântico Futebol Clube. Quando passava na esquina da Travessa Emílio Cardoso, onde hoje é o Restaurante Carne do Sol do Picuí, avistei aquela figura impoluta em pé no coreto, com as mãos para trás segurando o inseparável cassetete. Olhava para os lados em sua nobre missão de vigiar.

Não resisti. Escondi-me atrás de um poste e gritei com todos os pulmões: “Guarda Doido!!” O zeloso guarda ficou nervoso olhando de um lado para outro, movendo a cabeça como se dissesse: “Eu lhe pego”.

Em vez de sair sorrateiramente, achei ótima a molecada e repeti gritando mais alto.

Dessa vez o guarda percebeu de onde vinha a ofensa à sua autoridade. Desceu as escadas do coreto num pulo. Quando percebi que corria em minha direção, dei um pique. Ao passar pela grande e avarandada casa nº 1200, estava o dono, tomando uma fresca e fumando charuto.

Ainda correndo entrei pela portinhola falando: “O Guarda- Doido quer me pegar”, e me intrometi casa à dentro.

Depois voltei devagar. Pela fresta da porta ouvi quando o dono da casa dizia para o brioso guarda: “ Pode deixar eu falo com o pai do menino. Mas menino é isso mesmo seu guarda. Ele só tem responsabilidade de seus atos quando chegar a maioridade.” E ficou de conversa com o guarda.

Assim aprendi que eu era um menino inimputável. Depois de certo tempo o senhor dono da casa entrou, quando me viu conversando com seus filhos na reunião do clube, olhou-me sério: “Respeite o guarda, seu cabra sem-vergonha”. E deu uma boa gargalhada, dizendo que o guarda era maluco.

Esse senhor, alto, meio gordo, de olhar bonachão e alegre, chamava-se Luís Ramalho de Castro. Morador da Avenida da Paz, onde criou seus 11 filhos, junto com dona Bi, sua companheira, sua mulher, seu amor, sua vida.

Seu Luís era o homem dos navios. Trabalhava na Costeira, era com ele qualquer tipo de embarque naval. Em sua enorme e confortável casa gostava de receber os amigos e os amigos de seus filhos. Sua casa era a sede de nosso clube.

Sempre alegre. Nos carnavais Seu Luís um grande folião. Foi Rei Momo da cidade durante alguns anos. Fui seu súdito e fantasiado de vassalo lhe acompanhava no carro alegórico do desfile na Rua do Comércio e nas visitas aos grandes clubes.

Eu tomava conta de suas garrafas de uísque, que acabavam com rapidez, e de suas princesas. A rainha ficava junto ao Rei.

Já Dona Bi era uma severa mãe, os meninos tinham maior obediência. Era rígida, mas sempre com bom humor. Educaram os filhos, todos se formaram, todos deram para gente na vida.

Nesse ano de 2002, a mais velha Suzel está fazendo 80 anos, atestados por uma bela fotografia com a filha, a neta e a bisneta; coisa linda de família. E o mais moço de nome Francisco, o Quico, faz 60 anos. Como se vê num espaço de 20 anos Dona Bi teve 11 filhos. Nem precisava rezar tanto para ir para o céu.

Os mais velhos são amigos queridos de muita convivência. Os dois mais moços: Paulo e Quico não são apenas amigos de infância. Foram também companheiros de juventude, de maturidade e seremos certamente na caducidade. São meus irmãos. Fazem parte de minha família, de minha vida.

Foi com Paulo que tomei meu primeiro porre, juntamente com Lizardo Jardim, compramos uma garrafa de Martini, uma lata de presuntada e bebemo-la toda, até sairmos capengando para casa. Meninos 13 anos.

Éramos parceiros e adversários nas brincadeiras, no futebol de praia, no jogo de botão. Às vezes saía uma briga. Paulo era meio gordinho e não gostava de ser chamado de Paulo Gordo, como ainda alguns amigos o chamam.

Certa vez, Paulo teve um problema de asma. O médico passou como remédio, fumar um certo tipo cigarro. Quando ia visitá-lo ficava com maior inveja: Paulo fumando como um homem. Desejávamos ter a doença de Paulo.

Já rapaz, numa bela manhã de verão, eu esperava a turma para bater bola embaixo de uma frondosa amendoeira na Praia da Avenida. Paulo apareceu feliz, vibrando. Estava namorando a menina dos seus sonhos. Depois de algum tempo ele me apresentou sua Lourdinha no Gramado da Pajuçara.

Surgiu o grande amor de toda a vida de Paulo. Depois de algum tempo de namoro, noivaram, casaram. Veio a alegria da primeira filha Ana Paula e a felicidade do primeiro neto. Era o casal, mais correto, mais feliz. Almas gêmeas. Lourdinha eficiente dona de casa.

Desde que me casei, minha mulher quando tinha dúvida na cozinha, ou decoração, ou qualquer problema de casa, socorria com Lourdinha. Eu a chamava de consultora doméstica.

Lourdinha grande mãe e depois a avó. Até que num amaldiçoado dia aconteceu a tragédia. Um bandido seqüestrou Lourdinha, seu neto e sua irmã quando saiam do pastel Chinês na Pajuçara.

Elas entraram no carro sob a ameaça do revolver do bandido. De repente o cara ficou doido começou a atirar, quando apontou o revólver para o menino, Lourdinha se abraçou, protegeu o neto, mas o tiro foi fatal. A morte de Lourdinha foi a grande tragédia, a grande violência de nossa geração, ainda hoje está marcada, o tiro atingiu também a todos nós e cravou para o resto da vida dentro, no âmago de Paulo.

Lourdinha tornou-se a heroína de nossa geração, deu a vida pelo neto. Se é que isso pode suavizar o sofrimento, o padecimento.

Superar essa tragédia é muito difícil para Paulo, embora seja um homem forte. Tem uma fé inabalável que o enche de esperança de um dia haver um reencontro, seja como ou onde for.

Paulo ainda tem seus filhos e seu neto, sua alegria, a continuação da vida. Estamos chegando também no nosso dia, todos temos um dia certo. Eu não quero nem saber. Enquanto não chega esse dia, vamos vivendo o que melhor da vida nos trás.

Quando podemos nos encontramos, Paulo Gordo há muito tempo que é magro, corre todos os dias no mínimo 12 km, e toma, todas as semanas, suas cervejas. Apesar de tudo, não morreu para o mundo.

domingo, 17 de julho de 2011

O AMIGO VERDADEIRO por Milton Hênio

Na próxima quarta-feira, dia 20, será comemorado o Dia da Amizade ou o Dia do Amigo. Diz a bíblia: “Quem tem um amigo tem um tesouro”. Na música a definição é mais poética: “Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito”. Devemos cultivar a amizade, a harmonia, a convivência e a gratidão, para que possamos viver na companhia daqueles que nos querem bem, que nos têm amizade verdadeira.

Chegamos de mãos vazias e voltamos de mãos vazias. O que nos dá alegria em nossa passagem terrena é sabermos que contamos com amigos queridos quando nos ajudam a enfrentar os obstáculos. Diz o ditado: “Amigo é aquele que chega quando todo mundo já se foi”.Saibam que as grandes amizades, as velhas amizades, continuam a crescer mesmo a longas distâncias. Procurem conservá-las. É isso que eu faço com o maior carinho com os meus amigos da infância e da adolescência.Dentre eles um, chamado Claudio Fernando Oiticica Lima, o Cáu, funcionário aposentado do Banco do Brasil, dedica-se com o maior empenho a manter sempre unida a turma dos anos 50 e 60, residentes no Farol.Tivemos uma infância maravilhosa e nosso ponto de encontro eram as residências do saudoso Senador Rui Palmeira, dos escritores Ciridião Durval e Felix Lima e na minha casa, onde meu pai e meu saudoso irmão Mário Hélio, comandavam um verdadeiro “senadinho” para encontros sociais e intelectuais.O Parque Gonçalves Lêdo era o palco de nossas vidas onde apanhávamos o bonde para passear, fazíamos todo o tipo de brincadeiras sob a sombra dos velhos eucaliptos. Mais tarde a turma resolveu fundar um time de futebol com o nome de Palmeiras Futebol Clube. E assim crescemos agradecendo aos nossos pais pelo exemplo, pela devoção as nossas vidas.Sinto não poder citar os nomes desses inesquecíveis amigos sinceros, pois este espaço não cabe. São mais de 50. O fato é que o tempo foi passando como as águas de um rio em direção ao mar e todos nós fomos correndo em busca do nosso futuro. Graças a Deus todos foram felizes. Muitos já partiram para a eternidade, deixando em nossas vidas uma saudade imensa. Cada um seguiu seu destino, colhendo vitorias em suas profissões.
O tempo passou, mas o importante é que continuamos amigos verdadeiros. E o Cáu assumiu com grande entusiasmo a missão de manter essa turma toda unida o que faz há muitos anos, promovendo o nosso encontro em dezembro de cada ano.A vida é bonita quando bem vivida e vivida com sabedoria para que apenas não passemos por ela, mas que possamos usufruir de cada momento dela.
A vida é feita de momentos. Como na música eu repito: “Amigos para sempre é que nós iremos ser, na primavera ou em qualquer das estações; nas horas tristes, nos momentos de prazer, amigos para sempre”.
Aquele abraço, caríssimos amigos.
(*) É médico (mhenio@hotmail.com).

GAZETA DE ALAGOAS - DOMINGO - 17-julho-2011



sábado, 9 de julho de 2011

PRIMEIRAS FARRAS por Cuca


Iniciamos nosso ciclo promiscuo em reuniões na casa do velho Rodolfo, aniversários, em comemorações varias e também às idas a Jaraguá nas tardes e inicio de noite, inclusive acompanhando as putas em seus banhos de mar ao anoitecer na praia da avenida.

Lembro-me de uma deveras complicada; havia uma bicha chamado Reginaldo, que era afamado por trazer um balé de putas escolhidas a dedo, que fazia um roteiro em todo o nordeste; fato muito esperado e desejado por todos os bordéis e freqüentadores, em vista do aumento de freqüência e beleza das meninas que vinham de varias capitais , principalmente cariocas com sua voz característica. Nessas ocasiões, os cachês eram maiores e disputadíssimos.

Aconteceu na Boate São Jorge, em uma tarde, quando eu estava “namorando” com a Baiana , uma biscuit, morena de uns 18 anos, olhos verdes, seios abundantes, pernas perfeitas, que tinha se enrabichado por mim, nessa época com 17 anos. Como as meninas iam desfilar à noite, o Reginaldo chegou aos gritos dizendo que ela deveria descansar em vez de se enxerir com um moleque qualquer, aí não deu outra, apliquei-lhe uma sova que o mesmo baixou de hospital, inclusive, disse-lhe que caso sacaneasse a baiana, eu lhe daria outra surra ainda maior. Surtiu o efeito desejado, pois a partir desse fato o viado ficou com medo e passou a me respeitar, sempre ficando com uma de suas meninas.

Esse caso ficou conhecido por parte da turma; sempre que o Reginaldo aparecia, íamos todos para a Boate em que estava hospedado, e o mesmo nos apresentava as suas garotas que ficavam conosco à tarde sem obrigação de pagamento, ou por valor mais barato; contudo, nos comprometemos em não ficar com as putas à noite para que faturassem, o que era justo.

Os que participavam dessas benesses eram eu, Emílio e nego Lelé, mas a farra acima citada ocorreu quando eu tinha passado no vestibular de Direito e já cursava o primeiro ano.

Estava na faculdade assistindo aula do Prof. Silvio de Macedo, filosofia do Direito, quando, de repente, aparece o Clailton me clamando, dizendo ser uma coisa urgentíssima; saio da aula e o mesmo afirma que o Reginaldo estava na Alhambra com uma trupe de primeiríssima qualidade, mas na noite anterior , não tinha conseguido nada, pois as putas eram metidas, não dando a mínima.

E, como o Reginaldo respeitava-me, vieram procurar-me para fazermos aquela farra. Eram Clailton e Osório da Pajuçara; pegamos o Guerreiro (nome que dei ao meu Jeep) e fomos para Jaraguá; Lá, acordei o Reginaldo, dizendo-lhe que queria três meninas, tendo o mesmo nos levado aos dormitórios, onde fizemos a escolha e as convidamos para um banho de mar na praia mais bonita de Maceió, face o constrangido apoio do Reginaldo, as meninas toparam e saímos para a aventura, com o compromisso de voltarmos, no Maximo, até as 16 horas.

O jeep estava sem o para-brisa e a coberta, que ficara na oficina em conserto; contudo, face a urgência, retiramos assim mesmo. Inicialmente paramos em Riacho Doce, na macarronada do Presta, onde tomamos umas pingas com tira gosto de agulhinha, enquanto ficava pronta a macarronada que levamos para a praia, juntamente com uma garrafa de pitu, um litro de Ron montila, cocas colas, cajus e gelo, tudo devidamente alocados em um isopor grande, que já fazia parte dos acessórios do Guerreiro, como também uma radiola em forma de máquina, artigo de luxo aquela época. Macarronadas prontas, pratos, talheres, enfim tudo em cima, partimos para o banho de mar.

Paramos no posto para abastecer, pois como sempre o Guerreiro andava em cota mínima, e, já no asfalto a uns 70 km, eis que o capô solta-se e bate em nossas cabeças ( eu e Clailton ), tendo sido parado pelos ferros da capota, foi um verdadeiro vexame. Mas com alguma dificuldade conseguimos parar o veículo, sem maiores danos a não ser um corte na testa do Clailton. Contudo, se não fosse os ferros, seria um serio acidente pois levaria o Osório e as meninas da parte traseira.

Após o susto, seguimos para nossa praia particular que ficava antes da Sereia, entravamos por uma estrada no meio de um mangue, protegidos por uma cerca de madeira, que retirávamos e depois de passar, a colocávamos novamente; o caminho dava em uma praia arretada, onde tinha um coqueiro arriado que servia de assento e mesa, e o que é melhor totalmente deserta.

A farra foi indescritível, integração total: musica ambiente, local afrodisíaco, pessoal animado etc; só que esquecemos totalmente das horas que se passaram abruptamente.

Já era noite quando voltamos, mas para irmos para Jaraguá, tínhamos que passar pela Avenida onde nossos pais tinham como costume colocar cadeiras nas portas para conversar e tomar fresca; não deu outra, avistamos na porta de d. Melinha, minha avó, varias pessoas sentadas, imediatamente avisei ao pessoal para comportar-se a fim de passar despercebidos, logo em frente ao pessoal, uma das putas levantou-se e gritou “essa calcinha não é de saco é de seda”, ao tempo em que pedi ao Clailton para puxar para que ela sentasse, tendo o mesmo aplicado uma porrada na cabeça dela, fazendo-a cair no assoalho do carro. Foi triste.

Esta inocente farra teve conseqüências dolorosas. O dono da boate nos afastou por meses de Jaraguá, quase perdi o Jeep, pois papai, vovó Melinha e tia Zeca presenciaram a cena.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O VITORIOSO ATLÂNTICO - 1955 por Justo



O José Arthur JUSTO (HELENO) - mandou a matéria de Jornal, VITORIOSO O ATLÂNTICO, no quadrangular, em 1955, entre os juvenis do Atlântico, Sinimbú, Paraná e Palmeiras. Também fotos dos Meninos da Avenida (Atlântico). ---- clique na imagem para ampliar ----








FOTOS ENCONTRO JULHO-2011

ENCONTRO NO RESTAURANTE CANDELABRO (FENIX) : 1-JULHO-2011
TONHO - EURICO - PAULO - QUICO - WALDO - ALBERTO - CUCA - CARLITO - LELÉ