domingo, 7 de agosto de 2011

GENERAL MARIO LIMA por Carlito



Papai,

Tudo está nos conformes como o senhor determinou. Fui ao 20º BC (ainda chamo assim o 59º B.I.Mtz.), resolvi a pensão de mamãe e os seguros. Foi fácil, o senhor deixou tudo organizado. Estou com os originais do livro, vou entregar ao Nabuco e ao Maya Pedrosa para fazer o prefácio e um resumo biográfico, pretendo publicar ainda este ano.

Francamente não esperava que o senhor se fosse naquele dia. Tinha ainda esperança que voltasse para casa por algum tempo. Tudo foi tão rápido, o vazio ficou total, a dor aperta, as lágrimas caem, aquela sua presença quase muda de homem que fala pouco, tornou-se uma ausência gritante.

A saudade é amenizada, porque tudo que lembra o senhor só tem amor, carinho, vida e alegria. Todos os amigos foram de enorme solidariedade no Parque das Flores ou na Catedral. Cada abraço e palavras de consolo recebidos foram frutos do amor semeado durante a sua vida. Jornais, rádios, televisões, telegramas lamentavam sua ida, agradeciam todos os favores e bens que o senhor fez. O Paulo Silveira disse que Alagoas ficou menor, o Zé Soldado ainda hoje dizia que homem igual ao general vem muito pouco no mundo.

Fala-se em tudo o que o senhor foi: militar, professor, homem de telecomunicações, provedor, diretor etc., etc. O gordo Seton indignado me reclamava o esquecimento que o senhor foi o melhor juiz de futebol de Alagoas. Até nessa heim papai? Era esse seu ecletismo que dava a originalidade de seu universo. O Sr. sempre jogou nas 11 posições, tenho certeza que onde estiver, será sempre escalado no 1º time, nunca um regra 3. Mas seu passe custou muito caro para nós.

Foi embora o Continente o conteúdo ficou, foi embora a carcaça mas a chama de vida continuará acesa em todos os seus filhos que passarão para os netos e bisnetos. Esse legado ninguém abdica, pode deixar que a peteca não vai cair.

Sabemos que o senhor está sentindo mais que a própria morte, é o sofrimento de todos. Sua preocupação sempre foi a de poupar-nos de qualquer dor. Como tudo que fez na vida: amenizando a dor, dando alegria e lição da própria vida.

Não pense que me enganou durante a enfermidade, tudo fez para esconder, mas estava sabendo da sua dor, de seu sofrimento. Suas últimas palavras foram para mim, perguntando na maca, para onde eu estava lhe levando. Respondi para a U.T.I., mas estava sabendo que lhe levava para um final de dor e inicio de um outro lado incógnito da humanidade. É a maior verdade da vida. A morte é a única niveladora da igualdade humana.

A reação de D. Zeca está a melhor possível, continua com a determinação que sempre teve, em casa, na cozinha, é sempre ela. Mas, dilacerada, partida ao meio, porque afinal o senhor era um pedaço dela. Eram uma mesma pessoa. Na sua dor, no seu sofrimento, tenho certeza que mamãe vai buscar a força interior que sempre teve, para continua vivendo para os filhos, netos que a adoram. E sabe de uma coisa papai, ela vai se tornar investidora, a grana do seguro vai aplicar, ter rendas, que diria heim, para quem...

Jornal de Alagoas 14 de janeiro de 1983

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